segunda-feira, junho 06, 2005

Uma História Quimérica

Numa bela e soalheira tarde de Maio, três pacientes e persistentes estudantes de Biologia assistiam a uma aula teórica de evolução, quando, de repente, um deles se lembrou de fazer um jogo para enganar o tédio. O referido jogo consistia em cada uma das pessoas escrever algumas linhas de uma história completamente inventada, a seguir tapar o seu início e deixar apenas as últimas 4 palavras destapadas e passar o papel ao jogador seguinte, que teria de a continuar, tentando manter o encadeamento da história. As mudanças de escritor estão assinaladas com as iniciais do autor e com as reticências. Aqui está o resultado.

“Num dia tão chuvoso como aquele, o António sentia-se aborrecido. Impaciente como era, não descansou enquanto não arranjou ocupação. Encontrou-a no café do bairro, de onde preferia manter-se afastado, por ser frequentado por bêbados e pessoas incapazes de comportar, que em vez de falar grunhiam. Assim que entrou, sentiu-se deslocado da sua realidade (TB)..., por isso, deu meia volta e saiu para a rua (SU)...onde foi abordado por um par de prostitutas congolesas que o começaram a assediar. Ele despachou-as amavelmente, uma vez que tinha uma namorada surda, obesa, disforme e sebosa que o detestava, mas de quem gostava muito. E seguiu viagem (CE)...Enquanto percorria os primeiros kilómetros no comboio que tinha decidido apanhar, sentiu uma ideia brilhante invadir-lhe a mente. Esta seria uma viagem só de ida, não regressaria (TB)... Não mais voltaria àquele local triste e deprimente de onde vinha, onde tantas coisas más lhe tinham acontecido (SU)...Resolveu mudar de vida e começou por cortar nas dextroses, nos enchidos, no arroz de pato e nas francesinhas. A partir daquele dia começaria a comer pelo menos duas cenouras por dia e um alho francês. Passados três meses, os seus problemas digestivos tinham desaparecido. Já não sentia quaisquer dores (CE)...Como aquilo não era nada, ganhou confiança e decidiu aumentar o ritmo e o interesse da viagem. Tornou-a num festim de emoções, que se sucederam umas às outras. A certa altura começou a perder o fôlego e, de repente, deu-lhe uma dor no braço esquerdo e caiu fulminado, vítima de um enfarte.”


Se alguma vez fizeram isto, certamente estranharam a interligação e a coerência dos vários “bocados de texto” que constituem esta história.