Último Acto

Acordas com uma sensação esquisita na barriga e com uma série de dúvidas a assolarem-te simultaneamente. Finalmente, apercebes-te do teu próprio período de ausência. Agora que recuperaste a lucidez, tudo parece claro outra vez. Nunca leste uma revista chamada Orphopheu e nunca consultaste um blog com esse nome. Tudo isso foi apenas um sonho irreal...etéreo...e distante. Sentes a enfermeira ajeitar a almofada por trás da tua cabeça e a pedir-te para não te esforçares demasiado.

E pensar que tudo isto aconteceu por causa daqueles diospiros transgénicos. Como tudo poderia ter sido diferente. Tanto tempo passado num estado semi-consciente e em delírio.

O mundo que agora encontras é bem diferente daquele em que viveste durante o período de delírio. Não existem revistas pirata, feitas por biólogos cáusticos de proveniência duvidosa. Nunca passaste uma aula teórica de microbiana a rir-te por causa de uma revista preta com uma caveira branca. Nunca estiveste numa aula de molecular a ler a tal revista. No ano passado não encontraste o terceiro número da mesma revista que tanto tinhas gostado de ler anos antes.

Como poderia tudo isso ser real? Numa instituição reputada e respeitável como a FCUL, movimentos anónimos com o objectivo de promover a paródia nunca seriam tolerados.

Começas a sentir-te cansado e deixas-te escorregar pela almofada. Fechas os olhos e adormeces, com a certeza de que quando acordares nada de perturbador ou inesperado voltará a acontecer enquanto estudares na faculdade.

Em breve, tudo estará como devia estar.